sábado, 10 de março de 2012

A Transcendência (de novo)

Anselmo Borges publicou em 2011 um livro aobre o tema em epígrafe, O CORPO E A TANSCENDENCIA.
A obra inicia-se com uma pequena história entre uma mãe e o seu filho, quando ela explica, perante o cadáver da avó da criança, que ali está apenas o corpo e que a alma foi par junto de Deus, acrescentando que o mesmos acontecerá a ambos:o teu corpo ficará na terra e a tua alma vai para junto de Deus. Surpreendentemente, o miúdo pergunta "e eu, para onde vou?".
Daqui o filósofo parte para as suas considerações sobre a transcendencia. Reconhecendo, embora, a unidade corpo-alma no seu "corpo-pessoa" onde sobressai um EU sobre o "eu-corpo" e o "eu-pessoa", será difícil o autor escapar a um certo dualismo implícito quando admite o distanciamento (abertura ao infinito, diz Anselmo Borges)daquele outro EU que emerge como uma espécie de supervisor, que acaba por ser identificado com a "consciência de si" e consciência do próprio universo.
EU, que objectivo o meu corpo e o meu espírito, revelo-me como um verdadeiro alter-ego a mim próprio.
Anselmo Borges acaba por considerar "transcendência" o fenómeno da auto consciência que a neuro ciência identifica e continua a estudar.
Por mim tudo estará certo, enquanto não se cair na tentação de autonomizar o fenómenos da transcendencia produzido pelo corpo-cérebro, pois tal autonomização encaminhar-nos-ia para o dualismo cartesiano. Afirmações do género "EU (o tal supervisor?) não sou redutível à matéria" são o resvalar irreversível para o dualismo no binómio matéria/transcendencia.
Faz-se de tudo para evidenciar a singularidade humana da criatividade, da simbologia, do pensamento reflexivo, do culto dos mortos e da fé, entre outras "qualidades" únicas, para se inferir uma transcendência inexplicável pela física e pela biologia. Separa-se o homem de todas as leis da física e da biologia que o "construíram" ao longo de uma cadeia evolutiva interminável e ininterrupta da matéria e da vida conhecidas, quando esse homem atinge a *singularidade" da sua mente autocosciente, criativa e discursiva. Num ápice, esquece-se a candeia, o petróleo e o pavio, hiponotizados pelo brilho da chama; e o que antes se afirmava ser um todo indissociável e integrado até á sua essência, considera-se agora uma "realidade-outra".
E eu continuo a dizer que, de facto, é "outra" mas ainda tão "material" como a física e a vida que estão na sua génese. Não será mais verdadeiro, se queremos falar no mistério ou enigma da transcendencia,começar por aceitar o enigma daquilo que designamos por matéria e energia? Porque se há mistério no "efeito" -a transcendencia- esse mistério começa, necessariamente, nas potencialidades contidas nas suas causas.
Quando ficar demonstrado que pode haver efeitos sem causas, e para mim isso significaria demonstrar o não-gerado e o não-criado,(Deus?), então ficarei predisposto a aceitar uma luz que brilha por si mesma.