sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Darwin, Dificil Integração

Estou a terminar a leitura do último livro publicado pelo filósofo e teólogo Pe Anselmo Borges (Deus e o Sentido da Existência)e conclui-se da sua leitura o reconhecimento do evolucionismo e a desesperada tentativa de lhe escapar. O Padre e o Filósofo têm muita dificuldade em sobreviver à revolução darwinista.
Quando tudo parece em harmonia, deixando-se como pano de fundo comum o enigma sempre presente e verdadeiro da vida e do universo, intromete-se a fé do Padre, elevando o estatuto do homem acima do universo e da vida onde emergiu. Literalmente, e sem uma justificação convincente, separa-se o espírito, do corpo, quando no capitulo anterior se havia feito juras à sua indissolúvel unidade!
Por isso não é de estranhar a consideração menor pelos avanços da neurociência, que é sobretudo referida quando confirma o enigma da vida autoconsciente.
O que mais me tem espantado em filósofos e teólogos por quem tenho alta consideração, como é o caso do Pe Anselmo, é a cedência ao peso da ideia milenar de um espírito que ganha autonomia face à matéria. Afirmam, e não se dão conta da incoerência, a unidade do ser humano mas, na hora do "juízo final", segue cada um para o seu destino. Apetecia dizer, que pretendem forçar as portas do paraiso. Laicamente, eu direi antes que querem forçar as portas do futuro. Penso que é melhor ir com calma, descobrindo a chave que as possa abrir.

Chega a ser comovente o exercício mental, e brilhante o jogo de conceitos para provar que "o espírito não é redutível à matéria", que a pessoa não é uma entidade biológica, porque consubstancia uma subjectividade (eu, tu, ele) que transcende a materialidade. De uma penada esquece-se a origem "humilima", mas de uma tal complexidade, que a sua versão macroscópica, o cérebro animal-humano, mais parece um artefacto grosseiro.
É isso mesmo! Só porque é um enigma ainda imperscrutável, esquece-se a complexidade extrema primordial do universo e da vida, que esconde, mas não deixou de transmitir e desenvolver, todas as suas potencialidades. Mesmo esta, que é a extraordinária realidade do homem que se pensa a si própria.
O salto para aquele tipo de transcendencia de que falam os filósofos e teólogos, como o Pe Anselomo, não é consistente com a origem do universo e da vida, tal como resulta do conhecimento que as ciências nos permitem entrever. Força-se a existência de um mundo paralelo a este, um mundo que tem como base de sustentação a fé, a imaginação, o desejo, o sonho, a vontade.
O raciocínio simplista é do género: se eu desejo e penso na eternidade, ela tem que existir.
Nada mais falacioso. A verdade é que se eu desejo a eternidade ou a felicidade, tenho que as construir. O paraíso não existe, muito menos à minha espera, em parte alguma. Quando pensámos e desejámos a saúde, tivemos de construir a medicina, porque o "homem saudável" não estava, algures, à nossa espera. Nem está qualquer espécie de paraíso pronto a desfrutar.
É um perfeito absurdo pensar em construir a eternidade. Eu sei isso e os teólogos melhor do que eu o sabem, por isso imaginaram o estratagema da transcendencia para cumprir o sua humanissima ambição de eternidade.
A saída para esta situação "sem saída" foi proposta aos cristãos, nomeadamente por S.Paulo, há dois mil anos: começar tudo de novo, através da criação de um novo universo e de um novo homem, pela ressurreição. Os gregos riram-se do apostolo e os teólogos trataram de resfriar o entusiasmo dos cristãos. Foi só substituir a ressurreição por um "homem que não morre", ou morre em parte, ou a parte que morre não é homem essencialmente. E foi pena que se tivesse perdido este sonho magnifico de S.Paulo, evoluindo-se não para um mundo de almas fantasioso, mas para o empenho na construção da eternidade para o homem como um todo. Literalmente, fazer da loucura realidade, demorasse o tempo que demorasse...

Já entrados no século XXI, estamos nisto. Bem difícil de digerir o evolucionismo de Darwin, mesmo por aqueles que o apoiam!
Apetecia-me dizer da evolução, aquilo que alguém disse da física quântica: quem diz que já a entendeu, é porque ainda não percebeu mesmo nada.