sábado, 7 de agosto de 2010

O Prodígio Maior

Enquanto aguardo que o Augusto ou algum augusto letrado em Platão responda ao repto lançado no post anterior, lembrei-me do mestre do mesmo Platão, Sócrates, o Filósofo.
Quando o pensamento humano se centrava no mundo "exterior", no «cosmos» e no «caos», maravilhando-se e intrigando-se com o mistério, a riqueza e a beleza dos "elementos", o Filósofo lembrou-se de centrar o pensamento sobre si próprio, propondo um desafio novo: conhece-te a ti mesmo.
Sócrates teve a lúcida e genial ideia de perscrutar a fonte de todo o conhecimento, que é a inteligencia humana. E foi como se, a partir de Sócrates, o homem deixasse de simplesmente ver, ouvir, sentir, pensar, sonhar, inventar. Ele fez a pergunta óbvia e que apenas o ser humano consegue formular: afinal, quem és tu que pensas, sentes , olhas, rezas, cantas, sonhas e crias? Nem as árvores que se elevam da terra, as aves que cortam os ares, os peixes que dão vida às águas ou os astros que brilham no firmamento conseguem dar a volta prodigiosa de cento e oitenta graus e colocarem-se perante si mesmos para indagar «quem somos nós».
Como se Sócrates nos estivesse a dizer: somos mais que «ser», porque «estar aí» é comum a tudo o que se move ou está parado; peculiar e único no homem é «saber» que se «está aí».
Biliões de galáxias descobertas e infindáveis universos, paralelos ou entrelaçados, não se comparam ao prodígio da consciência humana.

Para nosso contentamento ou medo inconfessado de uma dolorosa solidão.

Pior ainda, se nos detivermos na perspectiva da extinção, pura a simples, deste prodígio maior, a consciência, cuja emergência testemunhamos.