sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Adenda ao Post Anterior

Onde eu escrevi que para a reencarnação ser um facto, o corpo a reencarnar teria de ser uma «cópia integral» do "falecido", afirme-se também que essa «cópia» teria de ser a do momento da morte, pois só assim transportaria consigo as emoções, os sentimentos e os pensamentos "actualizados".O erro do garoto do filme foi apresentar-se como uma cópia desactualizada...
Palavra de honra, a reencarnação parece-me uma coisa tão simplória que nem dá vontade de falar nela. Mas como tantos falam e acreditam, aqui fica uma ideia diferente, alavancada (como agora se diz) nos resultados das pesquisas da neurociencia.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A Propósito da Reencarnação

Ontem vi um filme na RTP, «Birth», titulado em português «Mistério», erradamente, penso eu, porque ali não há mistério nenhum. E se, para muita gente, existe o «mistério da reencarnação», o guião do filme vai no sentido da sua desmistificação. Resumindo a história do filme, há um garoto de 1O anos que se afirma perante uma linda e jovem viúva, agora noiva de de um novo amor, como o seu falecido e apaixonado marido. As "provas" que o garoto apresenta são mais ou menos convincentes, a jovem viúva acaba por acreditar na volta do seu falecido apaixonado e a coisa começa a ficar tão feia que ela propõe fugir com o garoto de 10 anos, esperar que ele cresça até aos 21 e retomar o casamento.
Entretanto, o amor extremoso da viúva tinha uma amante e esta, ouvindo a história do miudo, abordou-o ameaçando mostrar à viuvinha as provas da traição e atira à cara do garoto: se fosses realmente ele, era a mim que procuravas e não à viúva, porque era a mim que ele amava.
O filme acaba com o rapazinho a desmentir-se perante a senhora a quem fizera a vida num inferno.
O que acho interessante nesta história é o facto de o autor recorrer à «verdade dos afectos» para denunciar a falsidade da reencarnação, como quem diz "o amor não engana".
Nós sabemos pela neurociencia, e nisso Damásio é um mestre, que o nosso pensamento se constroi a partir das emoções e dos sentimentos gerados pelo todo integral que é o nosso corpo-cérebro. Assim sendo, não é possivel alguém ter emoções, ter sentimentos e pensar com o corpo de outrem. Para a reencarnação poder ser um facto, o corpo a ser reencarnado teria de ser uma copia integral da anterior encarnação, o que é um perfeito absurdo.
Mas se nós não podemos ter semtimentos e pensamentos com o corpo de outrem, podemos, isso sim, mentir e enganar-nos que é o que mais fazemos nesta vida.
Hoje, a ciência afirma, sem grande contestação, que cada ser vivo é "único e irrepetível", mas parece que muito poucos tiram as devidas ilações de tal verdade científica. E se essa verdade é válida para as mais simples formas de vida, quanto mais o não será para seres de uma complexidade extraordinária, como são os seres dotados de mente consciente.
As investigações cientificas e as teses filosóficas que propôem um espirito que se constroi, de raiz, em cada corpo-cerebro estão em vias de provocar uma revolução tão grande como aquela que definiu a Terra como uma minúscula particula do universo, quando o homem pensava que o seu habitat era o centro do mundo!
Não tarda nada, começam os murmúrios: não bastava ao homem ter que ganhar o pão de cada dia? Vai ter ainda de construir a sua alma? E para quê tanta canseira, se esta vida são "dois dias"?
Pois é, mas não vejo ninguém com vontade de deixar de comer, por pensar que está a alimentar um cadaver adiado...