quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Só Temos uma Oportunidade

De luto familiar pela morte de um cunhado meu, aos 73 anos de idade, tempo de vida do qual já se vai dizendo que não é idade para morrer, aproveito para reflectir convosco sobre o único espaço e tempo que nos é dado para viver.
Único, porque não teremos uma segunda chance, para corrigir, aperfeiçoar, em suma, crescer mais. Joga-se tudo na viagem a termo certo, ainda que indeterminado no tempo.
Porém, nem todos pensam que é a única oportunidade. Recordo, a propósito, o «Mito do Destino», de Platão, onde o soldado Er morre no campo de batalha e ressurge dez anos depois, para retomar o fio da vida em segunda oportunidade, admoestando os vivos para que se entreguem à sabedoria.
E retomo a comparação com a ressurreição cristã. Segundo a fé dos cristãos não há segunda oportunidade. A "construção" da morada de cada um para a eternidade é definitiva, na hora da morte: a salvação ou a danação, determinada pelas acções e pela fé.
É uma perspectiva arrasadora, para quem acredita numa vida depois da morte, sabendo-se que, por um deslize da fraca condição humana, podemos perder-nos para sempre no caminho.
Os estudiosos de S.Paulo não chegaram a um acordo sobre o destino exacto dos que não se salvam pela fé. Se é certo que os que morrem na fé ressurgem transformados para uma nova vida, num «corpo» espiritual, no entanto S.Paulo não deixou claro o que é feito dos que se perderam. Não ressuscitam e nem se transformam? Perdem-se no «nada», sem o sustentáculo de TUDO que é o Pai?
Quanto a mim, penso que a bondade de S.Paulo não aceita que o Pai crie um inferno eterno para os filhos perdidos, antes os deixa para sempre no sono da morte, nem os ressuscitando nem os transformando. Não terão a alegria do convívio paternal mas também não arderão num fogo de tortura eterna. Quem poderia ser feliz perante o espectáculo do inferno de tantos?!
Até este, temporário, quase-inteiro-inferno em que vivemos nos horroriza...
Sempre disse que a perspectiva daqueles que acreditam na reencarnação é mais atraente e parece muito mais lógica. Perante a nossa desgraçada condição humana, acreditar que temos uma e outra e outra oportunidade para crescer em sabedoria e verdade é bem mais motivador.
Seja como for, e de facto não sabemos como é, cada um aproveite a oportunidade que tem na mão porque, nesta situação como em nenhuma outra, mais vale um pássaro na mão que dois a voar, como diz a profunda sapiência popular. Sendo certo que, se perdermos a oportunidade presente, já perdemos ou tudo ou muito. Mas perdemos sempre