segunda-feira, 23 de maio de 2011

Stephen Hawking, Realista ou Simplista?

Numa entrevista para o jornal ingles The Guardian, publicada em 16.05.2011, este físico de renome mundial propõe sem rodeios as suas ideias acerca da vida humana. Começa com uma alusão à paralisia que o afecta há muito tempo: “Vivi durante os últimos 49 anos com a perspectiva de uma morte iminente. Não tenho medo da morte, mas não tenho pressa de morrer. Há tantas coisas que eu queria ainda fazer”.
“Eu considero que o cérebro é um computador que cessa de trabalhar logo que os seus componentes se avariam. Não existe paraíso ou vida depois da vida para os computadores avariados; é um conto de fadas destinado àqueles que têm medo do escuro”.
Perguntado, então, “porque é que nós estamos aqui?”, remete a resposta para uma conferência que terá lugar em Londres, mas vai adiantando que “ínfimas flutuações quânticas no começo do universo semearam os germes da vida humana”.

Se nos colocarmos numa perspectiva de “fim da ciência” e que, com Hawking, está tudo descoberto, pensado e dito, só nos resta ficar vergados a essa verdade total e definitiva. Não é, de maneira nenhuma, o que está a acontecer.
Mas não vale a pena tentar “dourar a pílula”, porque a desagregação e desintegração do conjunto prodigioso constituído pelo nosso corpo e nosso cérebro é uma realidade inelutável e tudo o que a ciência pode fazer e faz é tentar preservar-lhe a vida e eficiência por um tempo mais longo possível. Aliás, as ciências têm como objectivo último essa preservação, ciente de que dela depende a existência do individuo e o futuro da humanidade.
Desvalorizando, na prática, o facto de a maior parte das pessoas acreditar na vida depois da vida, a ciência luta em cada dia, no silêncio dos laboratórios, por mais e vida e mais qualidade de vida, para este conjunto corpo-cérebro.
Convenhamos que não faria sentido lutar tanto pela vida que temos, se a ciência tivesse a certeza acerca da “vida depois da vida” e que essa vida fosse precisamente o paraíso, ou seja, o cúmulo de tudo aquilo com que poderíamos sonhar.
A situação criada é paradoxal. Por um lado a ciência de Hawking afirma que já somos tudo o que é possível ser, ou seja, um monumental fogo-de-artifício e, por outro, a mesma ciência aparece na linha da frente a dar tudo por tudo como se, também, na prática, não acreditasse termos chegado ao “fim da linha”.
Numa perspectiva de “fim da cência”, a ética e a moral seriam relativizadas até ao limite da indiferença e frieza com que legislaríamos para meros computadores. E nenhum obstáculo se colocaria ao poder da ciência de um grupo com poder económico ou outro qualquer.
Como dizem muitos cientistas da actualidade, avisada e sabiamente, decretar o “fim da ciência” é liquidar os sonhos da Humanidade.
A certeza de Hawking é apenas a sua certeza. O que nos fez chegar ao que “somos” pode ser bem mais que meras “ínfimas flutuações quânticas”. E a ciência, na prática, ignorando quaisquer limites, continua a investigar.
Quem não suportar a expectativa, pois que se acomode a Hawking e morra em paz. Em alternativa, creia na "ressurreição cristã" ou na "imortalidade da alma".
Só deveria ser proibido, mesmo, parar a caminhada e a demanda do “santo graal”…

domingo, 22 de maio de 2011

Descer ao Pormenor Para Compreender o Conjunto

Retomando a ´história do "dedo e do gesto", do anterior comentário do Luis, posso imaginar este a ser feito na minha direcção e a significar qualquer coisa como "querias compreender a física quantica, não!..."
Nada demais, quando são os maiores físicos a afirmar que quem diz que a compreendeu é porque não entendeu mesmo nada.
Mas é fascinante ler as exposições de Peter Atkins, Brian Greene, Michio Kaku ou Paul Davis, que nos deixam a "cismar" acerca de como a partir de um mundo tão incrivelmente subtil(já não me atrevo a dizer pequeno)se chegou à estrutura onde emergiu a mente consciente.
Como pedrada no charco, aparece o prémio Nobel da física, Robert B. Laughlinh a escrever "que os maiores mistérios da física não se encontram nos confins do universo, mas bastante perto de nós" (In Um Universo Diferente).
Logo no prefácio, lança o desafio a físicos e filósofos: "Na mente humana coexistem dois impulsos primários e em conflito - um que nos leva a simplificar um objecto nos seus constituintes básicos, outro que nos leva a olhar através desses constituintes para atingir conclusões mais abrangentes". E prossegue: "À beira-mar, por exemplo, muitos reflectimos sobre a majestade do mundo, embora o mar seja, na sua enssencia, um buraco cheio de água salgada". Mas, acrescentará logo de seguida, "ver o mar como simples e finito, como faria o engenheiro, é animistico e primitivo, enquanto vê-lo como uma fonte infinita de possibilidades é avançado e humano".
Não só eu não contesto, como digo que assim falaria também o filósofo.