sábado, 22 de maio de 2010

O Monge e o Filósofo

Vai estar em Lisboa, para uma conferencia, um dos autores (o filho) da obra em título, o monge budista Matthieu Ricard.É francês e filho do famoso filósofo Jean François Revel. O livro nasceu da conversa entre ambos. O pai é filósofo ateu, o filho cientista das ciências genéticas, convertido ao budismo.
Acabei de ler alguns trechos da obra. São palavras do monge a definir o budismo. Graças ao meu amigo Luís, não fui apanhado desprevenido com afirmações como esta:
” O sofrimento resulta da ignorância. Portanto é a ignorância que preciso dissipar. E a ignorância, em essência, é o apego ao “eu” e à solidez dos fenómenos. Aliviar os sofrimentos imediatos de outrem é um dever, mas não basta: é preciso remediar as causas do próprio sofrimento.”
Não sei o que o pai filósofo terá dito para contraditar uma ideia destas. Nem sei, sequer, se rebateu a ideia. Mas eu discordo frontalmente do monge. Começo logo por pensar que a felicidade não se consegue dissipando o sofrimento e nem este resulta da ignorância. O sofrimento da mulher que dá à luz não resulta da ignorância e o que dele resulta é a felicidade de uma nova vida.
Tanto meditam estes monges budistas e não dão conta das realidades mais elementares.
Se não é deste sofrimento que falam, do parto da mulher, de que outros sofrimentos falam? Da unha encravada, do desgosto por não ter ganho o euro milhões ou de ter perdido o campeonato de futebol?
O sofrimento existe como forma de crescimento e como parte integrante da nossa condição humana. Será superado apenas na medida em que criarmos uma realidade nova, onde ele já não possa desempenhar função útil. Acabaremos por dispensar o sofrimento, como dispensamos o rabicho ao fundo das costas. Poderá é levar tanto tempo como levamos a perder a cauda.
Os fenómenos que ditam o sofrimento são sólidos, tangíveis, inteligíveis e transformáveis. A mulher que dá à luz não se debate com o fantasma do sofrimento. Nem o adepto sportinguista sofreria «pra burro» ano após ano, à espera de ganhar o campeonato, se a realíssima e reluzente taça não fosse entregue quatro anos seguidos ao FCP e neste último ano ao SLB.
Haverá sempre uma réstia de sofrimento enquanto houver em nós uma réstia de sonho. E quando deixarmos de sonhar é porque já estamos mortos e falta só fechar os olhos.
É mesmo assim, como dizias, Luís, «com um olho no finito e outro no infinito».
É um sofrimento quase deleitoso. Pode-se morrer serenamente, balançando sobre esta existência paradoxal.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Não Caminhemos Sozinhos

Quem me acompanhou no que escrevi para o blog aaacarmelitas sabe que mantive um permanente confronto amigável com a ideia do «monaquismo». Há quem lhe chame «solipsismo». Significa sempre a procura individual da felicidade, seja para esta vida terrena e efémera, seja para uma outra, imortal e eterna. Em qualquer caso, o homem dobra-se sobre si mesmo, rezando e meditando, julgando que se une a Deus-Pessoal ou ao Princípio Infinito Impessoal do Ser.
Eu penso que estes solitários - «monacus=monge=solitário»- no fim da meditação acabam perdidos no labirinto dos seus pensamentos ou a andar em círculos à volta de si mesmos até ficarem adormecidos, pensando que estão a olhar para a sua mais intima realidade. Costumo dizer, por graça, que estão a olhar para o umbigo do sua existência. Pensam eles que quanto mais se aproximarem da perfeita meditação, mais imperturbáveis ficam face ao que se passa à sua volta. Amam, indiferentemente, o calhau do caminho, o gato que se enrosca no seu colo, o monge que a seu lado entra em êxtase ou o homem rude e grosseiro que o insulta.
Não sei porque se afastam do incêndio que avança na sua direcção. Logicamente, deveriam permanecer serenos e acolher o «ser» das maravilhosas chamas.
Sem saber o rumo certo, eu vou por outro caminho.
Sou cada átomo do meu «corpo-espírito». E digo assim, porque sei que sou o «corpo» que toda a gente vê e o «espírito» que a todos vós se dirige, aqui e agora. Dizem os espiritistas que o espírito não tem partículas atómicas ou sub-atómicas mas, se assim fosse, não seria eu deste mundo.
Mal por mal, prefiro acreditar que não sou uma «alma penada».
Sei que ainda suscita uma grande polémica dizer que é o meu corpo que produz o meu espírito. Mas eu prefiro isto à afirmação espírita de que somos duas entidades com principio e destino diferentes, corpo para um lado, alma para o outro. Prefiro seguir a inspiração cristã da «ressurreição». Para onde vai a alma vai o corpo junto, porque, na verdade, o ser humano é uma unidade indivisível. E como o homem foi feito do «barro da terra», que é exactamente o que significa a palavra «Adão», a ressurreição cristã engloba também «os Céus e a Terra». O mesmo é dizer que o destino do homem e do universo é um só. E nesta perspectiva cristã não existem «corpos mortais» nem «almas imortais». Morre tudo e ressuscita tudo aquilo que o homem é no seu universo. A nossa morte é o nosso «fim do mundo» individual, enquanto não chega o cataclismo universal, o derradeiro «fim do mundo» de que tanto se fala.
Eu não acompanho o cristianismo neste «fim do mundo», mas agarro com as duas mãos a ideia da unidade do homem. As ciências caminham também nessa direcção.

Porquê toda esta longa introdução? Já vão entender.

Se, à nascença, cada um de nós é uma entidade única, isso significa que recebemos, necessariamente, todas as potencialidade humanas, dos nossos progenitores e o nosso destino está indissoluvelmente ligado a terceiros (lá se vai o ideal monástico). Pelo contrário, admitindo a existência, em nós, de uma dupla entidade –um corpo+uma alma- tal ideia começa logo por secundarizar o papel dos outros na existência de cada um de nós. E a história do pensamento e das religiões está cheia de afirmações a sustentar que dos nossos pais apenas recebemos a «parte corporal», por que a alma ou é criada «na hora» por Deus e introduzida no corpo ou já existia antes do corpo porque é imortal.
O próprio cristianismo baralhou tudo e traiu muitas vezes os seus próprios dogmas. Apesar disso mantém-se fiel ao dogma da ressurreição, que só aceita o homem integral e uno.
Se aceitamos que ao nascer dependemos totalmente dos nossos pais isso só pode ter como consequência que a nossa vida está intrínseca e irremediavelmente ligada às outras pessoas. Isto significa, na prática, que nós “fazemos” os outros e os outros nos “fazem” a nós. É como se estivéssemos condenados a caminhar juntos.
Há dias um amigo meu, historiador, dizia-me que «a ciência não liberta». E eu respondi-lhe que «nem a ciência, nem arte, nem a sabedoria. Só o amor liberta».
Aquilo que começa por ser uma dependência total dos outros para nascer e dar os primeiros passos na vida, acaba em liberdade e afirmação pessoal nos braços dos que amamos e nos amam. Como se completássemos o nosso nascimento.
Amar é ter consciência da nossa dependência uns dos outros e amar essa dependência. «É querer estar preso por vontade», como diz Camões.
Camões não sabia mas adivinhou: o amor não está escrito no céu, mas no nosso ADN.
Nem monge budista nem monge cristão.
Ninguém viaje sozinho, indiferente ao apelo da vida.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Um Amigo Que Chega da Austrália

Olá Pedro

Vejo a tua foto chegar, como «seguidor», à Laje Negra. Aparece a comentar,mesmo no teu português inglesado, se gostares dos temas propostos, que serão sobre a vida da gente. Como escrevi e pudeste ler, «ninguém sabe o caminho», mas ainda podemos dizer «não vás por aí, que já experimentei e não dá». Vamos pensar, juntos, em alternativas.
E eu tenho um conselho, o único, que dou a toda a gente: não caminhem sozinhos! Levem convosco um amigo, muitos amigos, todos os que puderem abraçar. E comecem por abraçar o vosso amor primeiro, aquele que partilha convosco a casa, o leito e o corpo inteiro. Uma viagem em tão boa companhia vai proporcionar a felicidade possível. Talvez a única que todos procuramos; hoje, porque amanhã, talvez os netos dos nossos netos a queiram toda, no sentido em que escrevia o Luís, meu amigo e companheiro no blog, «com um olho no finito e outro no infinito». Somos insaciáveis e isto tanto nos faz tomar consciência da nossa grandeza humana, como nos deixa, irremediavelmente, com água na boca. Mas que bom, porque assim se alimenta o sonho.
Um abraço
Mário

Quando a Terra se Apagar

Quem me conhece sabe que fui frade e quase padre. Mas acreditem que não venho para aqui armar-me em pregador Se quisesse ser pregador tinha permanecido frade. Além disso, os crentes já sabem, todos, o caminho direitinho para o céu. É certo que toda a gente deseja conhecer o caminho a seguir, se não for por outros motivos, sê-lo-á, pelo menos, para evitar contratempos. Não pretendo indicar esse caminho a ninguém e também não espero que mo indiquem a mim. Não é por má vontade, mas porque, simplesmente, não o conhecemos. Apesar disso, ainda vamos podendo dizer uns aos outros «olha que por aí não vais bem». E é tudo o que podemos fazer, enquanto caminhamos conscientes do nosso destino paradoxal. Com efeito, se é verdade que à superfície da Terra traçamos o percurso a seguir, com os zig-zagues todos que se conhecem, não é menos verdade que a Terra gira sobre si própria e à volta do Sol sem nos dar cavaco. Acendeu-se quando bem entendeu e há-de apagar as luzes, daqui a uns anitos largos, com indiferença majestática para com estes baralhados terráqueos.
Há dias, um cientista ligado à genética disse qualquer coisa como o nosso ADN estar a ficar demasiado igual e poder surgir o fenómeno de "consanguinidade" global. Nesse caso, a salvação da espécie humana consistiria em emigrar para outro planeta, onde «acasalássemos» com outra espécie (inteligente, soponho).
Até parece que a mãe Terra nos está a pôr fora de casa, com um pontapé no cu...
Sejamos um pouco mais poéticos: está, de facto, a empurrar-nos para fora do ninho, como fazem as avezinhas do céu aos seus filhotes "preguiçosos", para voarmos no espaço aberto, testando as lindas asas que entretanto nos foram crescendo.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A História e a Vida

Carta a um amigo, preocupado com as peripécias da minha saída do blog
aaacarmelitas.

Não se preocupe comigo, que estou muito bem. O que sinto por ter deixado aquele blog é uma mistura de alívio e de saudade. Aquele sítio tornou-se um palco confuso e até perigoso. Fui dar uma olhadela e agora vejo que me caluniam. Um anónimo a dizer que entrei como anónimo para bater no Jorge. O Jorge a dizer que insultei o nosso ex-confrade e bispo de Beja, D.Vitalino. Acredito que tenha lido o que lá escrevi e sabe que apenas confrontei o bispo com as suas ideias vazias de mensagem para os tempos que vivemos. E ele e os outros bispos ou não se dão conta ou fazem de conta que não vêem, nem ouvem. Quem quer calar vozes como a minha é porque não quer ouvir o outro lado, que é a voz da diferença, a voz da alternativa que se procura, para a mudança.
Mas eu não estou preocupado que as coisas levem o seu tempo, que as ideias façam o seu caminho. O que é preciso é colocá-las em cima da mesa e divulgá-las. Depois, é esperar que actuem como o fermento na massa, levedando-a, para ser o pão fresco de amanhã.
Um dia escrevi, no blog aaacarmelitas, que a História avança como um «rolo compressor». O conjunto da humanidade é esse rolo e ninguém o pára. Os obstáculos podem ser muitos e por vezes dar a impressão que «agora é o fim». Depois da tempestade vem a bonança e a História segue o seu curso. Os obstáculos são superados ou simplesmente esmagados, acabando por converte-se na massa compactada que é o «passado» e que nós estamos agora a revolver como nunca, para conhecer os passos dos nossos avós. Como historiador sabe como é emocionante "remexer" nesse passado, descrevê-lo e compreendê-lo como nunca havia acontecido. E os acontecimentos vistos à distancia dão-nos a perspectiva da Vida. Ficamos, realmente, mais humildes e sábios. E é nesse sentido que se pode dizer, com propriedade, que a «história é a mestra da vida».
Acima de tudo ficamos com a certeza de que as convulsões presentes são promessa de uma Humanidade melhor. E eu não me atreveria a dizer isto, se as actuais e cada vez mais completas descobertas, sobre a nossa História, não o demonstrassem à saciedade.
Um abraço amigo
Mário

terça-feira, 18 de maio de 2010

Lugares da minha infância

Laje Negra, penedo da peneirada,pocinho, ponte das tábuas, fonte da cal, lugar do souto, etc
Nas férias de verão, na páscoa percorremos o monte e estes lugares inúmeras vezes, contavam-se histórias de outros tempos, o porquê dos nomes, mas hoje lembro-me de poucos.
Seria de veras um trabalho interessante fazer um levantamento dos nomes dos lugares de Balugães, das possíveis origens dos mesmos e das histórias associadas.

Desventuras da minha amiga BEBE

Acossada por todos os lados, pergunta a minha amiga BEBE, lá do outro lado do mundo, em Moçambique,que fez ela de mal para as suas amigas de juventude lhe cairem em cima, só porque disse que a festa que elas organizaram para recordar velhos tempo, lhe tinha parecido, na foto, um casamento. Manifestou a sua estranheza por não terem optado pela simplicidade. Mas a BEBE não explicitou a que «simplicidade» aludia. E elas cairam-lhe em cima, assumindo, para espanto da minha amiga, que a BEBE estava a criticar as suas ricas toiletes.
Inconformada com tal reacção, pergunta aos seus amigos e amigas, entre os quais me incluiu, onde está o crime de que a acusam. E eu respondi-lhe assim:

Olá BEBE

A confusão tem a ver com o facto de uma festa de casamento significar, também e sempre, uma exibição de toiletes. É tanto tradição como intenção. Sem se dar conta, a BEBE estava a comparar o convívio das amigas ao desfile das vaidades femininas que acontece sempre nos casamentos.
E eu aprecio estas "vaidades", quando elas fazem, mesmo, as mulheres mais lindas.
Estou a recordar-me da última festa de casamento, como convidado, vai fazer um ano em Setembro próximo. Uma segunda prima, jovem nos seus 20 anos, estava tão deslumbrante com o seu vestido «máxi» azul-escuro que eu tive que fazer-lhe um rasgado elogio, perguntando mesmo se ela é que era a noiva.
Mas também havia tanta mulher mal-vestida! A maioria, talvez. A minha estava como eu gosto de a ver, vaidosa, perfumada e meiga.
Não sei como se enfeitaram as suas amigas da Beira(portuguesa)... Mas bastou beliscar-lhes a vaidade no «seu casamento», para deixar tudo em polvorosa.
Eu já aprendi, à própria custa, que na idade e no trajar feminino só devemos tocar como quem acaricia uma flor...
Ainda há dias me apareceu aqui em casa uma senhora minha amiga, chorosa, porque fulana lhe havia dito que parecia uma velha de oitenta anos. E ela só tem sessenta e oito! Realmente, foi ofensa da grossa, apesar do ar abatido patenteado pela senhora, na altura em que foi mimoseada com tão inoportuno quanto enxovalhante «piropo». Tive que reparar os estragos, protestando mil vezes «que ela estava mais que bem para a idade, «nem parecia a idade que tinha». Mas acredito que a ferida vai doer por muito tempo.
Descubro um encanto que me encanta nessa vontade, até ao fim, de a mulher querer ser sempre jovem e bonita. Há-de ser, um dia, a realidade de todas e de todos. Apesar de eu estar bem consciente de que se trata apenas de uma parcela pequena do paraíso com que todos sonhamos.
Um abraço
Mário

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Se Eu Tivesse Alma De Budista

Se eu tivesse alma de budista suportaria pacientemente, passivamente, humildemente, calmamente, estoicamente os insultos e incompreensões.
Se tivesse conseguido um grau elevado na meditação e anulação do meu próprio “eu”, afinal, a fonte de todos os meus sofrimentos, nem poderia falar em suportar, porque os insultos já não me poderiam atingir.
Digo isto, quando penso no blog da aaacarmelitas, com o qual deixei de colaborar. As palavras degradáveis que foram dirigidas a mim e a amigos meus poderiam ser esquecidas ou até desprezadas.
Se tivesse alma de budista, tais palavras poderiam, quiçá, não apenas ser objecto de compreensão mas serem contributo para o meu aperfeiçoamento.
Acontece que eu «sou filho de uma mãe doente» e fugi, porque a pancada doeu. Não contente com a simples fuga, ainda dei algum “troco”, murmurando como os meus botões «toma lá que é para saberes como elas mordem».
Se eu tivesse alma de budista…Mas não tenho, nem quero ter. Quero ter a alma que tenho, de levar pancada e dar pancada, de criticar e ser criticado, de errar e sofrer com os meus erros, olhando sempre em frente, esforçando-me por não cometer amanhã os erros de hoje. E se não for por um motivo mais “nobre”, que seja pelo mais simples e utilitário motivo: sofrer menos e progredir melhor.
Exactamente como faz a ciência! Com infinita, mas activíssima paciência.
Porque não tenho alma de budista, não vou permanecer num espaço que não me respeita e onde eu não vejo como fazer-me respeitar, porque se entrou num diálogo de surdos.
Mude-se o palco e os actores para ajudar a “descomprimir”. Quem sabe, com outros interlocutores, todos acabem por dar uns passinhos em frente, na via da nossa humanização. Às vezes, fugir é a melhor solução, para começar de novo, noutro lugar e com outras pessoas. Como num divórcio, para que acabe um casamento e se salvem os divorciados.
Experimente-se uma e outra vez e todas as que forem necessárias. Errando as vezes que se tiver de errar. Se for possível o diálogo, siga-se a norma imprescindível para caminhar em direcção à perfeição: corrigir os que erram. E vale para todos, como quem diz, eu corrijo-te, tu corriges-me, nós corrigimo-nos. E se alguém não quiser falar contigo, vai ter com quem o queira fazer. Mas não pares.
Sobretudo não fiques em silêncio!
O “pensamento” budista é praticamente irrepreensível. Está perfeito na sua intencionalidade e por isso seduz quem toma contacto com ele. Mas encerra, dentro de si, uma contradição insanável: como pode o homem comportar-se como um puro espírito ou tentar transformar-se em tal, se é a sua “materialidade” que produz a sua “espiritualidade”?
Enquanto não se aceitar esta verdade primordial, que a ciência vai deixando cada vez mais a descoberto, quem procurar «encontrar-se», «apesar do corpo», só contribuirá para escavar o fosso que o separa da sua própria realidade.
Para onde eu for, a minha materialidade terá de ir junto, porque sem ela «eu não sou».
O primeiro grande equívoco do budismo é sonhar que se pode, no espaço de uma vida, transitar da «materialidade» para a «imaterialidade». E o segundo é pensar que tal se consegue pela meditação, numa curta, intensa e dedicada viagem ao interior de si próprio. E enganando-se, de novo, pensando que "lá" chegaram sem o corpo-cérebro!
Será que o budista não se dá conta que nesse “interior” apenas encontra a paz que é a ante-câmera dos cemitérios?

domingo, 16 de maio de 2010

Laje Negra, Porquê

Apenas um lugar situado no monte da minha pequena aldeia de Balugães, onde se destaca uma laje de granito escurecida pelo tempo e que a pequenada havia transformado num improvisado escorrega.
Ainda hoje costumo subir o monte, perguntando, ás vezes, inquieto, se a extracção de pedra que já se fez nas suas proximidades não acabará por levar a “nossa” Laje Negra.
Quando lá subo, é como se retornasse aos dias de infância. Não é para escorregar, porque não tenho idade para essas folias, mas aproveito para descer o olhar até à planura dos campos da Agra, por onde serpenteia o rio Neiva, sereno, quase preguiçoso, sem pressa de prosseguir o seu curso até ao Atlântico, dali tão perto.