quinta-feira, 16 de junho de 2011

Eu Só Quero Ser

Assim cantava António Variações, um minhoto como eu. Muito mais do que "ser", ele procurava a sua identidade. Porque "ser", simplesmente, também o ratinho ou sol são.
E não consta que pretendam ir mais além do que aquilo que são. Ir "mais além" é a definiçâo da transcendência. É uma certa consciência do que se foi ontem, se é agora e se quer ser amanhã. Mesmo que o que se deseja ser amanhã seja o regresso ao que se foi ontem.
De modo que o "querer ser" de António Variações é puro inconformismo com o que hoje se é.
O pensamento-sentimento do que fomos ontem, somos hoje e queremos ser amanhã produz-se numa mente sustentada num cérebro tão frágil quão dependente, ele também, de um pouco de oxigénio. E assim temos um ser inerte, um gas apenas, como raiz da nossa vida e do pensamento.
Até parece que o Luis tem razão e a vacuidade é mesmo a essencia da natureza das coisas.
Parece, só parece, porque realmente tudo começa para lá do gas identificado e também ele ligado à raiz de uma realidade mais profunda.
E depois, percebida a subtil dependencia da cadeia dos seres, é a própria realidade dessa cadeia que nos intriga e nos fazer cantar "Eu só quero ser", como se vissemos a nossa própria existencia esfumar-se no infinito...

O filósofo ou o cientista dizem o mesmo, mas de outra forma: eu só quero saber.

A felicidade do homem estará perto da realização desta trilogia sedutora a que os antigos chamaram "Sofia": Querer, Conhecer, Ser.
A mente consciente os convocou.

Morte Assistida II

Sinto que a nossa Polis está numa encruzilhada e que a partir daqui nada será como dantes. Os dados estão lançados e de novo as frágeis caravelas vão aventurar-se no mar alto. Resta saber se os tempos são propícios a estas aventuras.
O caminho percorrido para aqui chegar foi-se degradando até um ponto de quase não retorno. E não me estou a referir ao defice das contas públicas e privadas, porque com essas a Polis tem meios para lidar. Sempre tem, haja vontade.
Preocupa-me, sim, o resvalar persistente e descontrolado para o abismo da manipulaçâo das mentes, por quem tinha o cívico dever de as esclarecer. O poder económico sem pátria, sem rosto e sem outra moral e ética que não seja o lucro, e um lucro rápido e fácil, acabou por ter nas mãos todos os meios para ditar a sua lei selvagem. E fá-lo-á "democraticamente", depois de ter conseguido o controlo total dos media e das instituições de soberania da Polis.
As muralhas da Polis foram derrubadas e resta saber se ficará pedar sobre pedra. Democraticamente, o voto do povo, astuciosamente seduzido e ludibriado por Ulisses, introduziu na cidade cercada por todos os lados o imponente cavalo que escondia no no ventre a destruição e a morte.
Hoje, acordei assim. Não liguem. Foi apenas um sonho mau, um pesadelo mesmo, por uma ceia que me incomodou o fígado.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Morte Assistida

O titulo deste post é um eufemismo para o suicidio. Nâo consigo opinar sobre o assunto. Limito-me a constatar que nascemos sem ser consultados. Podemos escolher, ou pelo menos ter alguma liberdade para escolher a maneira como vivemos. Somos impotentes perante a morte certa, se não for por acidente, será por doença ou velhice.
Não encontro melhor saída do que respeitar a vontade de quem decide, o que nâo é o mesmo que respeitar a liberdade de alguém. Porque não é livre aquele que o despero empurra para a morte. Em condições "normais" o suicida escolheria sempre a vida. Penso eu.

domingo, 12 de junho de 2011

Para o Luis Budista. Discorrendo Apenas.

Há um ditado latino antigo que reza assim: se queres a paz, prepara-te para a guerra.´
Por tudo o que o Luis nos tem trazido sobre o budismo, este ditado propõe exactamente o contrário do "caminho" budista.
Logo à partida, o budismo não estabelece um plano de acção para a sua vida. Antecipar e planear acarreta preocupação e ânsia, logo gera sofrimento, que é tudo o que o budismo pretende evitar, fazendo, simplesmente,o que é apropriado em cada situação real. "Esperar acontecer", como diz a canção.
Observo que o budismo tem como motivaçâo central "superar" o sofrimento ou anular as suas causas, através do auto controle, e nâo da "prevenção" das situações que possam acarretar sofrimento. Porque o acçâo preventiva exige uma constante preocupaçâo com o futuro e com os factores que possam estar fora do nosso controle.
E isso representaria uma grande canseira, preocupaçâo e sofrimento.
Evidentemente que o budismo também faz planos. Por exemplo, se prevê mau tempo ou bom tempo para os dias imediatos toma as suas providencias. Mas digamos que tem por lema fazer o minimo indispensável.
No campo oposto, tempos "os ocidentais" que querem prever e planear tudo ao milimetro. Curiosamente, também para evitar contratempos, surpresas desagradáveis e até grandes ou pequenos sofrimentos.
O ojectivo de uns e de outros parece ser o mesmo. Mas não é.
O budista procura a imunidade ao sofrimento, conseguindo, dessa forma, uma "certa" felicidade, que se caracteriza, exactamente, pela ausencia do sofrimento.
O "ocidental" não deseja uma "certa" felicidade. Quer a felicidade TODA. Quer a divindade ou o infinito e a forma que foi encontrando para realizar esse sonho foi "agarrar-se a Deus", um Deus Pessoal com quem sonha poder interagir e partilhar uma plenitude de vida, se nâo for aqui e agora, será depois da morte...
Como tudo isto é vivido em fé e esperança, numa ausencia efectiva e irremediavel de plenitude, o crente carrega a cruz da vida.
E aqui para nós: quem se contenta ou acomoda a uma "certa felicidade"?