sexta-feira, 25 de março de 2011

A Polis do Conhecimento (2)

No momento em que escrevo este post (2) sobre o tema em titulo, adivinha-se uma tragédia económica em Portugal. O obscurantismo politico triunfou sobre o conhecimento. A preversa "verdade politica" foi imposta e pôde ser imposta por causa do défice da verdade do conhecimento. A Polis ainda está demasiado à mercê dos que apostam na "fé"cega, fruto da ignorancia.
Sei que esta descida ao abismo acabará por colocar a Polis num novo patamar da verdade que rusulta do conhecimento.
Desta vez, parece-me, a mentira em curso é tão gigantesca quanto as suas prováveis consequencias.
Conjunturalmente, a Polis ficou à mercê do obscurantismo politico.

segunda-feira, 21 de março de 2011

A Polis do Conhecimento (1)

Às vezes convenço-me que ainda mal acabamos de ensaiar a saída de um certo obscurantismo filosófico e teológico e já entramos a fundo no obscurantismo político. Qualquer coisa como ir deixando para trás a "verdade-mentira" que medra no culto aos deuses e na moral que os mesmos deuses determinam, entrando na pântano da "verdade politica", cozinhada nos interesses das nações, dos governantes e dos que detêm o poder económico e judicial.
Contra qualquer destes obscurantismos, que atrasam o desenvolvimento da vida da Polis, eleva-se cada vez mais a verdade do conhecimento.
A ciência rasga, quase silenciosamente, os caminhos da verdade.
Acusam-me de ser um optimista. E sou e sem emenda. As minhas leituras preferidas, não únicas, são as que me proporcionam os "antónios damásios" destes tempos emocionantes de revelações cientificas. Venero-os, não tenho vergonha de o confessar, como na juventude me ajoelhei perante as "verdades sagradas" da minha fé. Respeito esse passado duas vezes, porque dele parti ao encontro da verdade cientifica. São duas fases da minha vida, como as duas fases da própria história da humanidade. Onde muitos querem ver contradição, eu prefiro realçar a progressão. Fui tão humano enquanto me orientei pelas verdades da fé como sou agora com a verdade da ciência. Cada fase tem o seu tempo próprio e o que me leva a deixar este testemunho é, antes de mais, a convicção de que segui o caminho de uma evolução possivel. Outros terão outra. Se acharem que, perante o testemunho que vos for dando, alguma coisa vos possa aproveitar, sentirei que valeu a pena gastar um pouco do meu tempo neste blog. Ficarei atento ao que de vocês vier, na esperança de aprofundar a minha progressão.
Não me convidem, isso não, porque é perda de tempo, a repetir o passado, sugerindo-me o regresso às "verdades religiosas" da minha juventude. Retroceder nunca foi o movimento espontâneo da vida.
Antes morrer que voltar para trás, diria, se pudesse, um velhinho sobreiro de 300 anos.

domingo, 20 de março de 2011

O Livre Arbitrio E Uma Sinfonia

Meu caro Lima, não referi, no post anterior, o livre arbítrio, mas já que trouxeste o tema para o debate, vamos a ele. Não tarda nada tenho o Luís em cima, a não ser que ande tão mergulhado na física quântica, que nem dê pela nossa conversa.
Os gregos criadores de uma fabulosa mitologia arranjaram um Deus para cada emoção e sentimento humano, materializando-os na pintura, na escultura ou na literatura. Aquilo que começou emoção e sentimento do homem acabou por ser considerado tão real ou mais, quanto a fonte dessas emoções e sentimentos que é o mesmo homem.
Assim se fez a religião para uma alma imaginada dentro do corpo da gente, tão independente deste que pôde ser pensada como pré-existente ao corpo e sobrevivendo-lhe. A ideia da dupla natureza ou substância do homem subsistiu até ao presente. Esta convicção, porque se trata apenas de uma convicção ou fé, esteve na origem da divisão do mundo em duas realidades distintas, uma de ordem material e outra de ordem espiritual.
E estava tudo mais ou menos pacificado com este “pano de fundo” filosófico e teológico, até que os decisivos avanços da ciência sobre a biologia humana puseram seriamente em causa o antiquíssimo mito da "alma separada” e a física concluiu por uma única “substância” a partir de um “big bang” tão remoto quanto a existência do próprio universo. Energia e matéria são comuns ao todo universal e as leis que as regem são as mesmas, sem quebra da “solidariedade" universal .
Outra coisa é saber quando conheceremos todas essas leis, dizem os homens da física.
Nos últimos tempos coube à ciência genética e à neurociência um papel destacado na desmontagem do mito da “alma separada”. Entre nós, António Damásio demonstrou a conexão essencial entre emoção, sentimento e pensamento, não deixando margem nem espaço para uma entidade capaz de um "puro pensamento", originada na pureza e subtileza de um puro espirito. Por mais brilhante que seja uma ideia, diz Damásio, ela tem as raízes todas no cérebro humano, que forma um conjunto indissociável (para a elaboração das ideias) com todo o corpo. Para Damásio, o nosso pensamento será sempre emocionado e sentido na sua génese. Numa bela expressão literária, o nosso prémio Nobel da literatura diz, acerca da relação da alma e do corpo, que "os sentidos são as pernas da alma". Podemos especificar: e do pensamento.
Toda a nossa actividade mental está imersa nesta realidade e só recorrendo ao mito podemos imaginar que transcendemos os limites da condição humana.
Assim, eu penso que o “livre arbítrio “ é um mito quando considerado um absoluto, esquecendo-se as limitações da mente onde se concebe o livre arbitrio. Porque uma coisa é estarmos conscientes da nossa abertura ao infinito e ao absoluto e outra coisa é apresentar o absoluto ou a liberdade absoluta na palma da mão. Seremos sempre a liberdade que conseguirmos concretizar e não aquela que sonhamos, porque esta é um mito.
A citação que fazes de Espinosa sugere-me que este grande pensador rejeita o mito do livre arbítrio daqueles que pretendem conhecer todas as causas e a causa primeira de todas . E, claro, um mito pode ser facilmente “desconstruído”. Tão fácil como desmontar o mito da Deusa Atena ou do Gigante Adamastor.
Se colocarmos a questão do livre arbítrio em termos absolutos, estaremos a extrapolar da nossa realidade humana. Podemos fazê-lo, mas tendo a consciência de que estamos a construir um mito e a revelar mais uma das extraordinárias capacidades do nosso cérebro: a capacidade de olhar o infinito. Porém, olhar é uma coisa; concretizar ou materializar é outra bem diferente. Como quem diz: pensar no livre arbítrio está ao nosso alcance; concretizá-lo é tão impossível como viajar até ao Big-Bang.
Uma janela aberta para o livre arbítrio é apenas poder pensá-lo. Sei que não é tudo nem é muito, mas o homem pode envaidecer-se por ser o único a conseguir a proeza desse pensamento.
Não é drama nenhum reconhecer a nossa falta de liberdade ao nascer e é deveras estimulante saber que podemos fazer escolhas, pensar e sonhar, como se viesse do futuro a liberdade que não existiu no passado.
Assim como se o livre arbítrio fosse algo a conquistar, em vez de uma condição com que nascemos.
E foi a pensar nisto que me lembrei da sinfonia.
Bethoven sonhou, pensou e compôs uma sinfonia. Mas a sinfonia não existe, de facto, enquanto permanece apenas na mente de Bethoven. E também não existe nem na partitura, nem nos músicos, nem nos instrumentos, nem nos gestos do maestro. Só acontece mesmo quando muitos se organizaram para executar o” projecto” musical.
Não vale a pena procurar os responsáveis (os “culpados”) pelos factos. O que interessa mesmo é que os factos sejam como uma sinfonia.