sábado, 4 de dezembro de 2010

Vida Extraterrestre? Os Espiritos Já Cá estão....

Abordo esta questão apenas porque o meu querido amigo Limabar fez a interpelação. E confesso que já andei todo p'raí virado.
É claro que a única resposta que posso dar é que não sei, porque se soubesse, Limabar, tu não estarias a fazer-me a pergunta. Possivelmente fizeste a pergunta apenas com a intenção de saber o que eu penso sobre o assunto. Claro que percebi a intenção e aqui vai a minha opinião.
Começo por citar uma "autoridade" na matéria e que eu respeito muito, Car Sagan. Afirma ele na sua última obra publicada (1995), e escrita quando já estava internado para morrer: «Não encontramos ainda provas concludentes da existência de vida fora do nosso planeta. No entanto,a busca ainda agora começou. Tanto quanto sabemos, a obtenção de mais e melhor informação pode ocorrer já amanhã. Penso que ninguém estará mais interessado do que eu em saber se estamos a ser visitados».(In «Um Mundo Infestados de Demónios)
Um destes dias a NASA anunciou a descoberta de uma bactéria que se desenvolveu a partir do fósforo, o que representa uma completa novidade em relação à biologia terrestre. Desconheço se essa bactéria estranha foi encontrada em alguma «amostra» vinda do espaço, como por exemplo da lua ou de marte, ou foi referenciada a partir de um meteorito não "contaminado".
O que interessa realçar, neste momento, é que o caminho para a descoberta da vida extraterrestre é a persistente e cuidada investigação científica e não o testemunho de visionários que fazem apelo à credulidade da gente simples e honrada. E quase sempre o testemunho destes indivíduos é mal fundamentado ou simplesmente falso, destinado à promoção e à exibição dos protagonistas. O puro mercantilismo é outra faceta e a mais reprovável.
Quando se fala em «vida extraterrestre» sou tentado a associá-la à ideia de «espiritos desincarnados», «almas penadas» ou «almas do outro mundo». É claro que não é isto que a ciência procura nem é isto que o cinema da «guerra das estrelas» ficciona. Mas apetece-me dizer que os homenzinhos verdes das naves extraterrestres são os sucedaneos modernos dos «espiritos desincarnados» dos nossos avós e dos nossos contemporâneos espiritas.
O certo é que o «espirito» dos espiritistas é de todo incompatível com o pedaço de cosmos que é o nosso lindo planeta com tudo o que o habita e devidamente representado (em mim?) pelo naco de carne designado corpo. E neste sentido se poderia dizer que sendo eu um "espirito" sou um extraterrestre. Quiçá, um extra- cómico. Queria dizer extra-cóSmico.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Este «Corpo-Espiritual» Que Não Me Larga...

Este post era para entrar na caixa de comentários ao meu post anterior, a propósito de uma observação do Limabar acerca do «Intrometido». Achei por bem puxá-lo para aqui. Com um pouco de paciência de vossa parte fica tudo bem.

Por acaso até se sabe de onde vem, porque lhe estou a responder no blog que referi no fim do comentário (aaacarmelitas). Mas, realmente, não sei quem é. Penso que talvez seja um antigo condiscipulo.
E por falar nisso, quando apareceste como Limabar, lembrei-me de um desses condiscipulos dos meus primeiros anos do seminário, na Falperra, em Braga, porque um colega e amigo se chamava António de Lima Barbosa, de Geraz do Lima, e ainda pensei que pudesses ser Limabar, de Lima Barbosa. De certeza que foi só eu a sonhar.
No teu breve comentário pareceu-me ver um reparo à falta de «enquadramento» do meu post. Digamos que é um post "intrometido". E tens razão. A verdade é que eu não perco uma oportunidade para defender a ideia do homem uno e integral e rejeitar com frontalidade o dualismo dos "espiritualistas". A afirmação da unidade do homem será recorrente em tudo o que escrever sobre o tema, não por mania e simples convicção, mas porque é nesse sentido que vão as descobertas mais recentes das ciências neurológica e genética. Por uma coincidência que considero feliz para mim, a formação teológica da minha juventude e a fé que a consubstancia, na doutrina da ressurreição dos mortos, contribuiram, desisivamente, para a aceitação das teses propostas pelos especialistas da neurociencia e da genética. Falo em «teses propostas» e não em verdades definitivas, porque os homens da ciência, numa manifestação de honestidade intelectual que me comove, não se cansam de dizer que têm ainda muito mistério para desvendar. Chegam mesmo a propor que, desvendar o mistério da formação da nossa consciêcia humana, será a descoberta do «santo graal».
Por outras palavras e seguindo noutra direcção, os físicos teóricos pensam que chegar à formulação de uma «teoria de tudo» para o universo significaria «ler a mente de Deus». O génio de Einstein ficou a olhar para esta teoria global, vendo-a tão distante como a última das galáxias.
E agora digo eu: quem sabe não se trate tanto de descobrir uma realidade misteriosa, inexistente, mas de a construir? De facto, se pensarmos bem, só desta forma o futuro está garantido e faz sentido o dia de ontem e o de hoje. Era como dizer que o mundo não está a expandir-se mas a «criar-se».
Cá por mim, não quero que o Mário de amanhã seja o Mário de hoje. Queria tanto garantir um pouco da eternidade que hoje não sou!
E não é precisamente isso que os crentes esperam do «céu»? Não é isso que os crentes na reencarnação esperam das aventuras e desventuras dos sucessivos «ciclos de vidas»?
Eu sou bem comedido nas minhas ambições e só desejo em cada dia «criar-me um pouco mais».
Dir-me-ão: mas isso é "navegar à vista"!
Nem mais. "Navegar à vista até onde a inteligência alcança. E eu tenho alternativa?
Tenho, sim, a alternativa da fé, mas não preciso de ir por aí, simplesmente porque não estou desesperado da nossa humanidade...
Estranho, não é? Agora os crentes é que são uns desesperados da vida! Só faltava mais esta!
Porém, parando para pensar, quem é que projecta toda a esperança de realização plena -felicidade - num «outro mundo» que não este?
É o crente, é o crente.
Discussões à parte, seja lá quem for que esteja mais certo, nesse conhecimento que não chega a sê-lo, o que interessa mesmo é criar-nos e crescer como gente.Todos estamos de acordo na necessidade de alimentar tanto o corpo como o espirito, quer se pense que eles sejam mais unha e carne ou mais água e azeite.
Com o tempo, a verdade há-de vir ao de cima.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Não Sou Um Espirito. Mas Tenho Algum...

“Você não é um ser humano que está a passar por uma experiência espiritual”.
“Você é um ser espiritual que está a viver uma experiência humana.” (Wayne W. Dyer)

A verdade, Intrometido, é que eu sou aquilo que realmente sou, independentemente daquilo que eu possa pensar que sou. Porque , pensar por pensar, até podia pensar que sou o rei das Arábias, mas a verdade-verdadinha é que sou apenas o côdeas do Mário Neiva...
Falando sério e de forma fundamentada vou responder ao teu repto de me considerares um espírito lançado na aventura humana e não como uma aventura humana a desabrochar na espiritualização. Eu sei que parece tão absurdo, este segundo pensamento, como ver uma semente minúscula transformar-se numa árvore frondosa, onde até os passarinhos podem fazer os seus ninhos. Mas os factos aí estão, revelando que uma quase ridicula semente escondia potencialidades insuspeitas. Agora sabemos como isso acontece e o muito que ainda falta por descobrir.
E também este Mário que te interpela era, no "principio", uma quase invisível sementinha. E não me digas, Intrometido, que os meus progenitores não tiveram nada a ver com o sucedido...Felizmente para mim, ninguém pode dizer que sou filho de pai incógnito. Sou filho no corpo tanto quanto o sou no espírito. Sendo certo que cresci imenso desde que germinei no ventre de minha mãe. E aqui cheguei, para falar contigo, graças à fabulosa tecnologia bem "física" que o espírito humano inventou e não pelo virtuosismo de um espírito "livre" que para se comunicar dispensaria o tempo, o espaço e o simples esforço das minhas mãos.
01 Dezembro, 2010 20:41

(In aaacarmelitas)

domingo, 28 de novembro de 2010

Um Homem Dois destinos?

Da carta a um querido amigo padre e teólogo católico


…Desde que fui para Balugães (da Primavera até ao Outono) habituei-me a conviver com a realidade da morte, porque é raro o ano em que não participe em meia dúzia de funerais de gente da minha aldeia, quase sempre os mais velhos e exactamente aqueles que conheci na minha infância. Em Balugães há muitos reformados e todos acompanham as cerimónias fúnebres. Há solidariedade na morte, como, infelizmente, nunca existiu em vida. De facto, enquanto vivos, mesmo na família, é «cada um por si e Deus por todos». Chega a ser chocante o muro entre «irmãos na fé» e simples «concidadãos-conterrâneos», na laicidade da vida do dia-a-dia. De mil e uma maneiras muitos cristãos bem intencionados tentaram vencer este muro e erguer nas paróquias uma verdadeira fraternidade ou comunidade. Penso que o … tentou isso mesmo, aí na comunidade onde vive. E nunca se interrogou porque tais tentativas não vão longe? Eu tenho algumas ideias sobre o assunto. Avanço-lhe apenas este pensamento: os homens, todos, querem ser felizes (ressalvo as patologias ainda irremediáveis); só não sabem como lá chegar; e os caminhos assinalados pelos "pregadores" estão mais desacreditados que nunca, muito por força de uma ciência de investigação persistente que vai abrindo perspectivas nunca sonhadas. Já não se trata de um vago sonho de um céu no além nem da ilusão de que o podemos ter aqui e agora. Mas o sonho vai, cada vez mais, nesta direcção e, para o realizar, a validade da investigação científica começa a levar vantagem sobre a pregação de iluminados.
Ouço dizer (aos pregadores) que o caminho faz-se caminhando. Mas eu pergunto: saberão o que estão a dizer? Penso bem que não, porque estou cansado de os ver insistir num pensamento (platonismo, primeiro e cartesianismo, depois) que dividiu o homem em duas partes irreconciliáveis, duas substâncias autónomas: a «res extensa» (o corpo) e a «res cogitans» (a alma). Explicita ou implicitamente a "pregação" assenta neste pressuposto dualista. Ora, em algum momento da vida, as pessoas acabam por sentir, mais do que pensar, que algo não bate certo nas práticas da vida e, sobretudo, porque acabam por aperceber-se que vão morrer, uma a uma, sem resposta às perguntas mais fundamentais e a dizer, como a minha avó Ana Rosa «que “de lá” (do além) não vêm cartas».
Resta-lhes a nebulosa e o consolo da fé que vem com a pregação, porque a verdade da ciência estará sempre num futuro inatingível, enquanto indivíduos.
Mas voltemos às práticas, porque é nestas que se concretiza o caminho que se faz. Se aceitamos o pressuposto dualista de Platão ou Descartes, é lógico que teremos de desligar o destino do «homem corporal» do destino do «homem espiritual». E de pouco valeu, ao longo dos séculos, a belíssima fé da ressurreição cristã do homem como um todo, porque os crentes e a "teologia prática" fizeram tábua rasa desse ensinamento fundamental e chegaram ao cúmulo de introduzir a ideia de limbos e purgatórios que, por si mesmos, afirmam o dualismo do homem. Instalou-se, desse modo, a confusão, aliás muito proveitosa para a Igreja, que à custa de sufragar as almas encheu e enche os cofres. E, com isso, abjurou a sua verdadeira e antiga fé da morte e ressurreição do homem uno e integral.
Diga-me, como se pode estruturar uma comunidade (e fraterna!) quando nos propomos amar «almas» e não seres humanos, únicos e irrepetíveis, na sua unidade essencial «corpo-espirito» e com um mesmo destino final?
Simplesmente não pode e o que se faz é reduzir a extraordinária mensagem do AMOR à «caridadezinha» inconsequente. Quando se acode às necessidades corporais, tal é feito em função da alma. Tratar do corpo de alguém é apenas o pretexto para salvar-lhe a alma, com o inconfessado propósito de salvar a própria.
É por isso que vemos o cristão aceitar, tranquilamente, viver na abundância, ao lado da degradação humana. As casas de caridade que constrói, os hospitais que põe a funcionar, as diversas organizações humanitárias que levanta ou apoia parecem sempre "cheirar" a «esmola aos pobres e desgraçados». E eu pergunto se algum namorado ou namorada aceita ser "amado" por compaixão! E, no entanto, o cristianismo tem como mandamento primeiro o AMOR. E estava tudo tão certinho e perfeitamente compreendido, a ponto de, primitivamente, os cristãos partilharem tudo e entre todos. É claro que isto era demasiado exigente e a saída airosa foi inventar um homem diferente, o homem da «res extensa» (o corpo) e o homem da «res cogitans» (a alma). E só este último, era verdadeiramente digno de ser amado. E assim tornou-se tão fácil “amar” os pobrezinhos reduzidos a «almas».
Esqueceu-se que um homem sem pão é um homem com alma a prazo, tanto quanto um corpo a prazo. Um prazo curtíssimo se o pão não chegar amanhã. Mas persiste a desastrada ideia de que morre o corpo mas a alma sobrevive. E, deste modo, o cristão predispõe-se adiar, uma vez e outra e mais outra, o amor ou solidariedade ao verdadeiro homem uno e integral. No silêncio da oração, no templo e na casa dos crentes cuida-se da salvação da alma que o corpo é para os bichos da terra, no cemitério da paróquia.
Infelizmente, a sociedade cristã ocidental está estruturada sobre o dualismo do homem. A pregação cristã actual, e não só, assenta-lhe que nem uma luva e é o espelho da sua doutrina.
Os senhores pregadores nem fazem ideia (ou fazem?) do que se perde por terem posto de lado a velhinha fé na morte e ressurreição do homem integral.
Os avanços da neurociência, no sentido de demonstrar a unicidade do homem, são a luz ao fundo do túnel. Sem impáfia, antes com grande humildade, os neurocientistas reconhecem que não conseguem compreender como o universo, primeiro, e o nosso corpo, depois, geraram a nossa mente consciente, numa alma que parece ter vida própria e bastar-se a si própria. É um mistério que persiste e se adensa e desafia o homem. Porque, até ver, somos a consciência do universo que ascendeu, em grau único, ao pensamento consciente.