terça-feira, 13 de julho de 2010

Campeão do Mundo

Viva o Campeão do Mundo e cada um de nós com ele

Parece um fenómeno estranho, esta exaltação impressionante de uma nação à volta de um triunfo desportivo.
Talvez não se trate de um simples evento desportivo.E não é de todo.
Nesta hora recordo os versos do nosso poeta maior:

«aqueles que por obras valorosas
se vão da lei da morte libertando».

Camões refere-se aos heróis de todos os tempos. A heroicidade traz a fama e esta a imortalidade que perdura na lembrança dos povos.
O herói sai do anonimato pelos seus feitos assinaláveis. O herói emerge do nada que a todos cobre como uma capa silenciosamente pesada e ganha um nome e um lugar na história, talvez sonhando que assim nunca morrerá.
Uma forma de imortalidade e de uma verdadeira ressurreição de quem se sente morto e enterrado no anonimato.
Não é nada de novo, o crente sentir como seu o grande poder do seu Deus, o súbdito sentir como sua a glória do seu rei, o cidadão sentir-se engrandecido no triunfo dos seus atletas.
Habitualmente não nos damos conta, mas nós chegamos a vibrar como um corpo e um espírito em uníssono, em alegria arrebatadora, contagiante e genuína. A pele que se arrepia dentro do estádio é a alma de cada um que sonha sair do anonimato para se afirmar como «alguém».
As lágrimas que correm pela face do peregrino no «adeus à virgem», em Fátima, são "prova de vida" e expressão dolorosa de quem se despede «daquela que me ama, me vê e compreende» até ao âmago do meu ser. E como ninguém. Pode não passar de um profundo anseio, mas o peregrino estremece da cabeça aos pés, sonhando com tal possibilidade.

Sempre o eterno desejo de vencer a solidão do anonimato, pelo amor que podemos dar e receber, que não é mais que o primeiro gesto de um reconhecimento que se quer total. Como se cada um de nós precisasse de ouvir

«és tu!»

e nós podermos responder, eternamente reconhecidos,

«sim, meu amor, sou eu!»

A hora da vitória é a hora do reconhecimento. É a hora em que alguém ou muitos olham para nós e nos dizem: sois fantásticos.
A derrota não pode ser o momento da solidão. Mas é o que tantos, tantas as vezes, sentem e "bebem para esquecer".

(In aaacarmelitas. MN)