quarta-feira, 29 de junho de 2011

Indiferença Desconcertante III

Se estivesse a escrever para um livro colocava o subtítulo “O melhor da consciência é o amor”.
Rios de tinta gastos para definir o amor e quase sempre se esquece, “no ardor da paixão”, que o amor é o filho maior da consciência humana. Assim mesmo, à letra: amamos, quando atingimos a maioridade consciente.
À frieza distante e infinita do Universo ou de um Deus com ele identificado, responde o calor próximo do nosso amor que retribuí com o olhar consciente de um amor finito, bem à nossa medida. De mãos dadas ou consciências entrelaçadas podemos olhar o Universo sem medo da sua esmagadora grandeza. Quase apetece beijar-nos no cimo da montanha mais alta e provocá-lo com a singularidade da nossa consciência amorosa, sem dizer, apenas pensando, porque o universo é cego e surdo:

isto, e olham-se nos olhos os amantes, tu não tens ou não és.

A morte certa destrói a consciência e o amor. A Humanidade tem lutado persistentemente contra esta fatalidade, ora erguendo monumentos de saudade, ora inventando formas de preservar a vida e fazer durar os dias e os anos da felicidade.
Apesar de “ele” aparecer tão insensível às “criaturas” que gerou, nós queremos conhecer o “Pai”. E ficamos confusos. Não sabemos se agradecer-lhe a realidade a que chegamos e somos, se reprovar-lhe o facto de nos ter entreaberto a porta do paraíso, para logo de seguida a fechar com estrondo na nossa cara, como que a dizer “desenrascai-vos na verdade efémera e sofrida de uma vida”.
Mas nós somos bons filhos e acabou por germinar em nós a semente da gratidão. Já não estamos em guerra com o “Pai”. Afinal, a vida pode ser uma festa breve, mas é tão bom enquanto dura. E agora sabemos que podemos prolongá-la mais e mais. No tempo e no carinho.
Também nisto adultos, finalmente.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Indiferença Desconcertante II

É recorrente as pessoas referirem a “força bruta dos elementos” , em face de uma qualquer catástrofe natural. Sabemos da história religiosa dos homens como estas “forças” ganharam vida e nome próprio e foram entronizadas nos altares do medo, da ignorância genuína e da vontade de sobreviver aos seus ataques impiedosos e destruidores. Em desespero de causa, a Humanidade sacrificou-lhes os próprios filhos, oferecendo-os e imolando-os para aplacar a ira incontrolada. Esta forma derradeira de medo e de impotência perante a “força dos elementos” e, em última análise, da morte iminente, não tem paralelo no Universo, até onde nos foi possível conhecê-lo. E não há como negar que esta atitude “religiosa” da Humanidade resulta da sua condição única de ter chegado à mente consciente.
A emergência da consciência humana foi como terrível despertar em pleno campo de batalha, sem saber como nem porquê. E têm sido milhares de anos vivendo este drama em plena consciência.
Substituir o Universo infinito, escuro, frio e indiferente, por forças personalizadas dos elementos (deuses) ou mesmo por um Deus Único, quer identificando-o com esse universo quer imaginando-o "por detrás”,gerando-o ou criando-o, não nos livra do seu comportamento arbitrário, de absoluta indiferença, em que somos tratados como um caracol que se esmaga com uma patada ou se faz dele um petisco apreciável.
Apesar de tudo, a Humanidade resistiu heroicamente. Desenrascou-se como soube e pôde e andamos nisto desde que nos descobrimos senhores de uma preciosa mente consciente. Preciosa, sim, embora a sua luz quase nos cegue, porque foi graças a ela que inventamos mil e uma formas de fintar o destino e garantir a sobrevivência.
Não somos vencedores de deuses nem escapamos ao universo que nos dá a vida e no-la pode tirar em qualquer curva do íngreme percurso, mas podemos exibir um espírito consciente, com assomos de pura liberdade, capaz de fazer inveja ao Grande Universo que nos pariu. E se “ele” tem melhor, estamos à espera para ver.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Indiferença Desconcertante

Todos conservamos fresca a memória das tragédias nos mares do Japão e da Indonésia que provocaram centenas de milhares de mortos, resultantes de maremotos seguidos de tsunami.
Com a mesma indiferença com que esmago no meu quintal um caracol, inadvertidamente no meu caminho, a natureza se abate "impiedosa" sobre a humanidade.
O advento da ciência, em força, com os "gigantes" como Kepler, Galileu ou Newton, a presença de "forças sobrenaturais" era aceite sem questionar. Se algo se movia ou acontecia é porque alguém empurrava ou fazia acontecer.
Seja para proteger e ajudar, seja para atacar e punir, o "sobrenatural" assinalava continuamente a sua presença.
Atingimos um patamar de conhecimento que nos permite constatar que as forças conhecidas ou ainda desconhecidas "tratam" com a mesma indiferença uma galáxia, uma estrela, um planeta, a matéria morta ou a matéria viva, a vida sem consciência e a vida consciente. O Único privilégio de cada ser consiste na sua própria existência.
O ser humano que se considera único por ser consciente, terá de reconhecer que a consciência não faz dele um privilegiado no universo. Torna-o, apenas perante si mesmo, raro e único, mas apesar de ter a consciência da sua especificidade está tão sujeito à "indiferença" das leis universais como a mais insignificante realidade da matéria. Um meteorito perdido pode acabar quase de repente com biliões de anos de evolução da vida.
Como se o homem tivesse escapado das "mãos de Deus" para cair na teia implacável das leis do Universo.
Terá o budismo intuído esta constrangedora realidade "moderna" e daí apontou o tal "caminho do meio" como a saída mais "airosa"?