Os especialistas da ciência médica sabem hoje curar, reparar ou substituir praticamente qualquer órgão do corpo humano, seja ele essencial como o coração, os rins, os pulmões, as artérias, etc. Este progresso da medicina, em contínua expansão, tem melhorado de uma forma extraordinária as condições de vida das populações a que ele tem acesso, hoje, praticamente, todo o mundo civilizado.
Há, no entanto, um sector, essencial por excelência na vida das pessoas, onde os esforços dos mais aguerridos especialistas não tem fornecido, até hoje, os frutos tão desejados e logicamente atendidos. Falo do cérebro, centro motor e de comando, que necessita um desempenho sem falhas para que os requisitos de uma vida normal possam ser satisfeitos. O cérebro é uma máquina complexa, uma bola de 1,2 kg de células e água, com atributos variados e funções extremamente imbricadas e de uma complexidade que continua a desafiar os mais ousados e sábios especialistas do sector. É o órgão capaz de nos fazer andar, falar, sonhar, criar; sentir penas e alegrias, atravessar, sobre um fio, o espaço entre dois imóveis... operações que nem o computador do tamanho de um prédio de cinquenta andares poderia realizar.
Até há bem pouco tempo, este tesouro da natureza humana, escondido na caixa craniana que o protege, era considerado inacessível, semelhante a um segredo, guardado em cofre forte, do qual ninguém conhece o código de abertura. Hoje, com o aparecimento de máquinas produzidas pela vanguarda da ciência paramédica, como os “scanner”, “IRM”, “PET-scans”, os cientistas da pesquisa sobre o cérebro têm à disposição um protótipo de chave capaz de dar início à descodificação parcial do seu funcionamento. Este movimento de abertura para novos conhecimentos, é portador de esperanças que ainda há bem pouco tempo seriam consideradas loucas.
Num dos pontos centrais da pesquisa actual neste domínio, está a chamada doença de Alzheimer. Esta doença, em progresso constante nos últimos anos, atinge milhares de pessoas, especialmente em períodos de vida menos activa, sem que a medicina tenha conseguido resultados significativos, tanto na prevenção como na cura. Dizem os especialistas, que o grande problema é a sua detecção demasiado tardia, quando os danos causados no cérebro pela morte de neurónios, em sectores vitais, são irreversíveis. O mecanismo que conduz a este resultado é conhecido, (a acumulação de placas de proteínas que matam os neurónios), mas não as suas causas. Os esforços actuais dos pesquisadores concentram-se na possibilidade de intervir antes da morte neural, de maneira a bloquear a doença, o que significaria, não uma cura, mas uma diminuição importante da evolução da doença, hoje completamente abandonada à sua progressão anárquica. A imagética, a biologia e os testes cognitivos, são ferramentas sobre as quais os especialistas fundam imensas esperanças e esperam um apoio precioso, para atingirem esse objectivo. Os resultados atendidos parecem débeis quando confrontados com a gravidade e amplitude dos prejuízos causados por esta doença. Mas a ciência avança, com optimismo e tenacidade; e, como noutros domínios, a persistência no esforço será um dia recompensada. Se não para nós, que apenas temos a esperança para consolação, talvez para os vindouros próximos, a medicina tenha encontrado soluções que satisfaçam as nossas aspirações legítimas.
Conseguir um dia “reparar” as anomalias de um cérebro doente, é, certamente um dos maiores desafios colocado aos cientistas do corpo humano, neste século vinte e um.
Inicialmente publicado em http://a.lima.b.online.fr/